O show é dividido em três blocos temáticos, mas o evento começa muito antes. A experiência se inicia assim que o espectador chega à arena. Na entrada para convidados e jornalistas, um tapete roxo os espera, com uma iluminação em tons de rosa e roxo – cores que predominam no material de divulgação do show. No corredor que leva as pessoas até seus lugares, há painéis de fotos e feitos da cantora. Impressiona a minúcia de detalhes.
Marcada para às 20h, a apresentação começa às 22h. O palco é enorme, ocupando todo o vão entre as arquibancadas, e o cenário também é grandioso. Pode-se dividi-lo em cinco partes: de dentro para fora, há um telão, cercado por dois painéis ilustrativos, por sua vez ladeados por duas grandes cortinas nas extremidades. O show se inicia com uma encenação teatral, com os dançarinos no palco, e a Morte cruzando o palco até abrir uma tumba. A luz roxa (a mesma que recebia os convidados) dá o tom sinistro da cena. É o primeiro bloco: o inferno.
“Não Para”, “Menina Má”, “Proposta” e “Cachorro Eu Tenho Em Casa” são as primeiras músicas e botam o público para dançar. Os fãs, vindos de diversos estados brasileiros, cantam todas em alto e bom som. Às vezes, é verdade, Anitta desaparece no palco, que traz muita gente junta. Além dos oito músicos e das duas backing vocals (divididos nas duas extremidades), o início do show é marcado pela presença de 30 dançarinos no palco. Mas depois alguns saem de cena para performances menos poluídas. Nessa parte, ainda, Anitta tem um probleminha com o microfone. Logo após cantar duas músicas, ela quer conversar com o público e não consegue, com o aparelho falhando. A impressão é que, portanto, ela havia feito playback antes. A pulga atrás da orelha é inevitável diante das circunstâncias. Mas depois isso é esquecido, com números nos quais ela evidentemente canta ao vivo.
O segundo bloco é inspirado no cineasta francês Georges Meliés – claramente uma sugestão do diretor do show, Raoni Carneiro. Anitta não tem nada a ver com Meliés. Seus fãs, menos ainda. Isso fica claro rapidamente, e o show esfria. Já no interlúdio, com o mal aproveitado membro do Cirque du Soleil, dá para notar algo fora de lugar. É bonito – e a exibição dos vídeos no telão agrada cinéfilos – mas não é o que se espera da Anitta. Neste ato, ela canta “Zen” e outras músicas mais lentas e românticas, incluindo uma inédita, escrita por uma fã chamada Letícia. “É uma forma de agradecer ao carinho de todos vocês!”. A melhor parte é o dueto com Projota, que canta duas músicas com ela e dá fôlego à apresentação.
O show volta a ficar animado no terceiro ato, que representa o céu – com uma interpretação muito própria, diga-se de passagem, com ursos de pelúcia gigantes e coloridos. “Vocês pensaram que eu não ia rebolar hoje, né?”. Ela canta hits como “Meiga e Abusada” e faz uma performance só de dança ao som de uma batida de funk, relembrando seus tempos de baile da Furacão 2000. Ela vai até o chão, quica e treme o bumbum à la “Dança do Créu”. O público pira. Era a Anitta que esperavam.
Nesse clima, ela apresenta as novas “Na Batida” e “Blá Blá Blá”, que agradam de cara e destacam o potencial do seu time de dançarinos. Por fim, claro, a tão aguardada “Show das Poderosas”, que ganha uma versão remixada. No meio da música, há uma explosão, com confetes e serpentinas caindo em absolutamente toda a arena (veja vídeo) e a gravação chega ao fim. Anitta e sua equipe fazem reverência ao público, como no teatro, e encerra-se o tom de musical.
Há quem vá embora, mas os que ficam ganham um bis improvisado. “Quais vocês querem ouvir de novo? Posso fazer o show inteiro mais uma vez, se quiserem”, brinca. Mas ela pode mesmo: na noite anterior, Anitta gravou a mesma apresentação, sem plateia, ao longo de oito horas. Isso poupou os fãs de desagradáveis interrupções e repetições ao longo da apresentação, que correu como um show normal. Sábia decisão. “Eu e minha equipe trabalhamos muito e com muito carinho para vocês”, diz a cantora. “Vamos fazer bis de música nova? É mais legal, né?”. E ela faz. E é mais legal mesmo, como a cartada final, que diz que ela não é só “Show das Poderosas”. Esperta.
Matéria: Portal POPLine
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